Voltar a sonhar debaixo das estrelas

23 de setembro de 2013


Sempre pensei que era capaz de tudo e mais alguma coisa…
Nem de longe, nem de perto!
Já sonhei com amores impossíveis,
Mas hoje por eles não atravessaria o deserto.

Já não sonho como antigamente,
Já nem sonho sequer…
É triste perder todo este alento que nos guia,
Perder a vontade de continuar a lutar.

As vezes já nem sei pelo que luto,
Já nem sei qual a motivação que me move.
Sinto que ando pelo simples andar,
Respiro para me manter vivo e pouco mais…

Não vivo, existo!
Tenho plena consciência disso,
E mesmo sabendo que assim é
Sinto-me impotente, não consigo mudar!

Quero voltar a sentar-me debaixo das estrelas,
Voltar a sonhar com os olhos bem abertos,
Voltar a dar um motivo à minha existência
Quero viver, viver como antes vivia!

Preciso de amar novamente…
Amar daquela maneira louca e infantil,
Perder-me completamente no amor
Porque perdido no amor é o caminho certo!

Imagem: Caminho para as estrelas de Aliperti

A Casa da Praia

19 de agosto de 2013

De súbito um céu estrelado, o regresso da escuridão.
Ressoam ao longe lamentos de longos anos
Que batendo com tamanha força nas dunas
Onde pela hora antiga nos amávamos loucamente
Cria um efeito de coro celeste que em tempos ali passados
Me fazem lembrar um amor de verão, perdidamente apaixonados.
Teu corpo de sereia que me enfeitiçava, teus olhos de medusa traiçoeira,
Tua boca que pedia sempre mais…as ondas do teu cabelo, tuas curvas.
Os nossos corpos que sentiam química
E loucamente queriam a resposta às suas preces,
Suavam à medida que tentávamos travar
Os movimentos involuntários do nosso profundo desejo.
Em verdade, éramos apenas duas pessoas que olhávamos o céu
Onde o horizonte cortava a lua em dois pedaços totalmente iguais,
Porém na nossa mente palpitava um desejo mutuo que a própria natureza
Não podia negar.
Corria-nos no sangue uma alma selvagem que há semanas
Fugia à socapa para naquele sítio de amores nos poderemos encontrar.
Vagabundos da noite, deixava-mos traçada a nossa marca na branca areia,
Que também apaixonada pela nossa meninice,
Guardava o segredo dos jovens amantes.
Pode a casa da praia, eternamente testemunhar
Com suas vidraças viradas para o mar
E  já velha de tanta história,
Parte de duas vidas que ali fizeram juras de amor
Que até aos dias de hoje ainda se fazem cumprir.

Diário I – Mãe

7 de junho de 2013

 6 de Junho de 2013

Pensei que com a mudança de psicólogo iria tudo mudar, para melhor. Se calhar enganei-me…
Se calhar não! Tenho a completa certeza de que tudo deu para o torto. Remediaria as coisas se nos momentos de tensão, aqueles em que ele mais precisa de mim eu me mantivesse calma.
 Mas digo desde já que nenhuma mãe gosta de ouvir da boca do seu próprio filho que para ele mãe é somente uma chatice, a sua pior inimiga. Uma mãe é um ponto de segurança, um refúgio, uma amiga, uma protecção para todas as horas, é o sim quando lhe dão um não, é coração que dá vida às suas palavras e as faz dançar nos nossos ouvidos até cairmos num sono profundo, onde nada é preocupação. Mãe é o beijo de boa noite que penetra nos nossos sonhos e que nos arranca dos pesadelos, mãe dá vida mas dá também a sua vida para ver um filho feliz.
 Eu disse-lhe:
 “-Se te portas mal tiro-te os brinquedos e dou aos meninos que precisam mais que tu. Obedece à Dona Carlota!”
 Mas quando cheguei a casa é que tive a verdadeira surpresa. Na cozinha tinha à minha espera uma caixa devidamente fechada e tinha também a Dona Carlota a esconjurar o meu rapaz enquanto curava o joelho da Raquel…Não sabia eu o que ainda estava para vir.
 Dirijo-me para a beira da mesa e qual não é o meu espanto ao ver um bilhetinho todo bem dobrado cujo seu destinatário era eu mesma.
 Diz-me então a Dona Carlota:
 “ Sara, o seu diabrete deixou essa pequena mensagem para você ler. Eu não sou de me meter na vida dos outros, mas se ele fosse meu filho…”
 Pensei eu:
 “Ainda bem que não é…”
 Depois de verificar que a Raquelinha estava bem fui para a sala e fixei o pequeno “presente” que o meu filho me deixara. Hesitei em abri-lo durante alguns segundos e pela primeira vez, vi o meu rapaz a tratar-me por Sara e não por mãe. Finalmente após alguma indecisão ganhei coragem e cumpriu-se o destino.
 Então o bilhete dizia assim:
 “ Sara, não peço desculpa porque não fiz mal nenhum. A Raquel meteu-se comigo e eu retribui. Ao pé do frigorífico, como podes ver, estão os brinquedos já encaixotados para dares a outros meninos ou fazeres deles o que tu quiseres. Queria também dizer que não prestas pois estás a tirar a única coisa que ainda me faz feliz. Preferia saber que sou adoptado e que a minha verdadeira mãe anda algures à minha procura, mas infelizmente isso seria bom demais. És a pior mãe que um rapaz pode ter. Odeio-te”.
 Levei o bilhetinho ao novo psicólogo. Ele disse-me que se o Renato já fosse adulto este papel seria a sua carta de suicídio.

Até Breve,
Sara.   

Diário I – Filho

27 de abril de 2013

27 de Abril de 2013

 Cá estou eu de novo, já tem vindo a ser um habito escrever para ninguém o que é de admirar. Nunca consegui levar um diário até ao fim como nunca consegui levar nada na minha vida...Para quem um dia coscuvilhar as minhas coisas  esta última frase vai parecer muito dramática vinda de um miúdo de 9 anos, mas informo-as desde já que não verão mais em mim uma criança pois já penso por cabeça própria. Deixo-as sim a pensar nos problemas da adolescência e em como é bom falar com ninguém. Vá nem sei o que estou para aqui a dizer...agora percebo quando dizem que da minha boca só saem asneiras. Pobrezinhos dos pais, coitadinhos não conseguem controlar a rebeldia do filhinho que para eles será um sempre eterno bebé. Estou farto de ser o saco de pancada aqui do sitio, só encontro descanso perto do Pirata ou da avó Juca.
 Mas queria mesmo contar-te o que se passou hoje. Eu estava no jardim perto da casa da árvore com a bandeira preta e a estúpida da minha irmã, mal virei costas, fez o favor de a destruir para cozer  vestidinhos para as ridículas das suas bonecas. Achas isto normal?! Eu enervado claro, dei-lhe um empurrão e ela bateu com a testa na esquina das escadas. De repente começou a inchar, a sangrar e foi nesse instante que a mãe chegou do seu trabalho que diz ela ser a sua segunda casa. Saiu do carro e nem bom dia nem boa tarde. Desatou aos berros comigo, agarrou-me pelos colarinhos e perguntou-me se achava bem o que tinha feito.
 Que raiva! Ela devia estar calada, calada! Não devia defender a pirralha da minha irmã porque a final de contas eu é que fui o prejudicado desta situação, eu era a vítima não ela! Como é possível depois de tudo o que ela me fez ainda a encher de beijinhos e mimos...sou sempre posto de lado, sou o segundo plano. Às vezes penso não ser desta família  Ei espera lá, serei mesmo desta família  Quem me dera que não...eles não me merecem. Neste preciso instante a mãe está a adormecer a menina querida, duvido que venha aqui ao quarto porque o meu castigo vai durar até aos  60 anos e até lá não verei mais a luz do dia, palavras dos meus pais.
 O que eu precisava era de fugir aqui de casa, por certo que ninguém daria pela minha falta. O pai diz que toda a gente deixa marca onde quer que passe mas eu sei que a minha foi apagada quando a Raquel nasceu.
 Oh....estás a ver? A janela está aberta!!Ela  nem é assim muito alta, bastava um pulinho e estava no jardim. Boa ideia! Vou fazer a mochila, vou fugir  e voltar para a minha verdadeira família  mas só amanhã, primeiro tenho que pensar  num bom plano.
                                                                                       

                                                                                     Até a próxima (se houver)


P.S. Tenho que te dar um nome, não posso passar a vida a chamar-te ninguém. Ah é verdade, hoje a minha professora deu-me um beijinho por eu lhe ter ajudado a levar as pastas para a sala. Será ela a minha verdadeira mãe? Boa Noite...

Sozinho contra o mundo...

24 de março de 2013



Nada resta daquilo que fui,
Porque desperdicei demasiado tempo
Na busca do impossível…
Porque me perdi por caminhos de ilusão.

Não há um dia em que não me sinta mal,
Não há um segundo de sossego para a minha alma,
Mas tudo tem de parecer bem,
Nada pode evidenciar as minhas fraquezas…

Já não pertenço a este mundo…
Estou desligado de tudo,
Já nada importa,
Nada me motiva para a vida.

Se soubessem a dor que vai cá dentro,
A angústia, o sofrimento, a fraqueza…
Não há mais lágrimas para chorar
Nem mais desabafos que me salvem.

Sozinho no mundo, sozinho contra o mundo…
Uma batalha épica, dolorosa,
Difícil, muito difícil, de vencer sozinho,
Sem armas mais difícil ainda é.

Já não consigo ter discernimento para tomar decisões,
Sou guiado por alguma força externa que me vai empurrando,
Não sei para onde vou nem como vou ficar,
Só sei que isto era o que não queria…



Foto: "Perdido" de Márcio Klein Rocha

Sem vontade para continuar

19 de março de 2013



Olho para o céu quase em desespero,
Estou fraco e já não consigo continuar mais,
Baixo a cabeça quase como quem vai desistir,
Não há forças, não há vontade…

O meu fim está próximo, sinto-o…
Por mais motivos que eu tente encontrar
Para dar alento a esta triste e inútil vida,
Nada me transmite vontade para continuar.

Infelizmente a minha viagem acaba aqui,
Acaba porque já não há razões para continuar
É impossível arranjar alento que me continue a guiar,
“Tudo o que tem um princípio tem um fim!”

Olho-me constantemente ao espelho e penso para mim:
Mas afinal quem sou eu?
Qual é o meu verdadeiro propósito?
As respostas não surgem, apenas existe a dúvida.


E não há nada nem ninguém a quem me agarrar,
Nada nem ninguém que me ajudem a ficar.
Já ninguém me ouve neste vazio enorme,
Já não resta ninguém que me faça amar…


Foto: "Desistir" de Catarina Costa

Memórias do que não consegui

25 de fevereiro de 2013



Hoje olho para trás e sei que tudo valeu a pena,
Cada instante, cada memória…
Não sinto arrependimento em nada que tenha feito
E sei que voltaria a fazer tudo do mesmo jeito.

Voltaria a sentar-me debaixo das estrelas,
Voltaria a correr por entre as gotas de chuva,
Voltaria a pisar as folhas caídas no jardim,
Voltaria a sonhar o impossível…

Se tudo foi do meu agrado?
Nem tudo…
Se tudo poderia ter sido diferente?
Poderia…
Seria hoje a mesma pessoa?
Sem dúvida que não.
Valeu a pena?
Claro, todos os segundos!

Mas não devo ficar muito tempo neste estado,
Olhar o passado deve ser um momento breve
Porque o futuro chama por nós constantemente
E o presente passa a correr sem pedir autorização.

Amanha algo de extraordinário acontecerá,
Eu sei que assim vai ser
Porque quem se esforça terá a sua recompensa
Algo que me alimente ainda mais a vontade de viver!

Luto por coisas grandes, muito maiores que eu…
Se vou conseguir lá chegar? Não sei.
Mas não quero que tudo seja uma memória
De algo que não atingi porque me limitei a esperar. 

Foto: Dá-me a tua mão de Ana Rita Vaz Cruz

Faz a diferença

13 de janeiro de 2013

Há notícias de destruição,
Há notícias que nos destroem…
Há infâncias perdidas,
Infâncias roubadas,
Há até quem nos roube tudo
E não leve nada!
Há também aqueles que falam de boca cheia
E há aqueles que simplesmente
Não podem falar!
Há dias em que nasce o sol,
Há noites em que cai a lua.
Há gente que mata a fome
E há a fome que mata a gente!
Há a chuva que nos molha o rosto,
Há rostos que se molham sem chuva!
Há quem grite,
Há quem chore,
Há quem ria,
Há quem pense,
Há quem não grite
E que prefere rezar!
Há a Primavera
Há o Verão,
Há quem prefira o Outono
Do que o Inverno.
Há casas vazias
E famílias sem casa
Há falsidade e os falsos amigos
Há o quente, o frio
Há quem morra de frio
Há quem não goste do quente.
Há quem fique de pé
E quem goste de se sentar
Há aqueles que simplesmente preferem ficar a ver.
Há quem durma porque têm cama
Mas há quem não consiga sonhar
Há quem não possa estudar,
Há quem não queira estudar.
Há deputados e varredores de rua
Há quem diga que vai mudar o mundo
E há quem lute todos os dias para o mudar!
Há o pai,
Há a mãe
O avô
A avó
O irmão
O tio
O primo
A madrinha
Eu
E tu!
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